sábado, 23 de abril de 2011

pequena.

*
Só vejo uma estrela no céu. Ela não parece sozinha, brilha tanto que me faz não querer parar de olhá-la. E no silencio, ouço grilos, piados, latidos distantes.
Estou feliz, mesmo sabendo que amanhã volto à salvador. Já sinto saudades daqui... Sei que é esta saudade que me faz caminhar firme, pisar leve.
Da janela vejo uma árvore robusta balançar levemente os seus galhos ao vento. Parece saudar a noite fria, parece saber... Quantos invernos já viveu? Arraigada, presa a este universo único, vendo o tempo se esvair com o vento. Não sabe ela que nesse mistério de encontros e perdas, somos andarilhos. Quem para se perde no tempo... Esquece o caminho.
Ouço um riso, não sei de onde vem. Riu também e não sei por quê. Volto à janela, olho a estrada. Hoje ela parece estar tão perto (sempre a achei distante). Sobra-me uma vontade grande de caminhar.  Esperarei amanhecer. Falta pouco.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

além do legível.

*
Quarto escuro, lanterna sob o papel. Tento me aproximar do sono.  As idéias se misturam, a cabeça bagunça e tudo se clareia.
A lanterna faz sombra nas paredes. Vejo minha mão ampliada se metamorfosear pelo quarto. Sinto-me imensa...
Uma chuva cai mansa na janela... Acalma o tempo aqui dentro. Um ciclo está se fechando. É estranha essa sensação...
Estou curiosamente feliz, mesmo certa de que não sei nada, mesmo perguntando que dia é hoje. E a chuva cai e cai fina, miúda, como se lavasse a poeira assentada que havia; como se levasse a vida para uma nova estação. (Ela deve saber)
 Sinto-me leve, inebriada com o som do vento, extasiada com a imagem rara que dança sobre mim. É esta sombra mutável que me faz parecer pequena, que faz sentir-me grande...  

segunda-feira, 11 de abril de 2011

esó.


há sombras. há folhas. há pó.
cadeiras vazias. lembranças distantes.
cansaço. peso.
nem o vento balança estas folhas.
Nem o vento.

terça-feira, 5 de abril de 2011

oreflexodaárvorenoteto.


Sentada na varanda a olhar o céu escuro, surge em minha mente uma lembrança empoeirada. Respiro diante dessas paredes que sufocam.
Sou eu. Tenho dez anos, talvez onze. Quem sabe... Há uma escada ao pé de minha casa, estou pendurada em seu último degrau. Cotovelos apoiados nas telhas, olhar fixo mirando montes distantes. Avisto telhados. Vejo estradas. Vislumbro futuros. Estou feliz. O tempo sobra, se esvai. Não o vejo passar. Há uma vontade de ser grande.  Medo não há. Era só.
Há uma pausa. Minha cabeça dói. O cansaço me toma. Esqueço. Não há tempo de lembrar. Resta-me esta sombra no teto. E nós somos breves...