sábado, 28 de março de 2015

Eu gosto de barcos


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- Você gosta de barcos?
Ela, meio sem entender, respondeu: - Gosto... – E por algum surto momentâneo pensou que poderia fazer alguma alusão ao filme que assistia naquele momento: “Por água abaixo” passava na TV e lesmas cantavam em um barco. Pensou também que poderia dizer algo sem sentido, já que a pergunta parecia não fazer.
- Gosto de barcos, mas prefiro asas. - Respondeu em seguida. Uma força maior que ela dizia que ele não iria pensar que conversava com uma maluca. E, por algum motivo, não pensou.
Após esse diálogo incomum passaram a se falar todos os dias e tornaram-se grandes amigos.
- Vou tomar banho de chuva. Vamos? - Disse a ele certo dia.
- Vou pegar uma toalha e jajá chego ai.
(Sim, banho de chuva)
Caminharam naquela noite do início ao fim da rua por diversas vezes, sob uma chuva torrencial que não cessava. E os vigias dos prédios, provavelmente, pensaram que haviam enlouquecido. E haviam.
Saíam diversas vezes e ela pensava que estava completamente apaixonada quando se pegava rindo sozinha ao lembrar as conversas que tinham.
Ela tinha certeza: ele só pode estar também!
Até que um dia foram novamente ao Glauber Rocha, assistiram ao filme como de costume, mas, no caminho para casa pairavam no ar palavras que precisavam ser ditas. Não foram.
Ela entrou em casa sufocada e seus dedos nervosos prontamente enviaram uma mensagem: “não se vá”.
Ele voltou e, debaixo de chuva, derramou tudo que guardava em seu coração. - Sou louco por você! - Foi a única coisa que o cérebro dela conseguiu processar... E, naquela noite inundada de emoções, o primeiro beijo aconteceu.