segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Adida.



Mesmo com a memória de éter que tenho, lembro perfeitamente daquele dia. O sol baixo, o céu meio cinza de um sábado qualquer. Estava saindo da livraria em que trabalhava, entrei no ônibus e a vi. Adida. Nunca vou esquecer esse nome. Ela me olhou e pude ver em seus olhos mareados o meu reflexo assustado.  Havia alguma coisa presa na garganta de Adida, talvez um grito. Na minha restou um nó. Não sei por que razão essa lembrança me tomou por completo hoje pela manhã e passei o dia inteiro meio embriagada. Fui trabalhar com a sensação de que a pequena menina ainda se sentava num banco atrás do meu e que carregava em seus braços aquela miudeza de alguns poucos meses de idade. Foram minutos. Foi quase uma eternidade. Fiquei por um bom tempo tentando imaginar o que se passava na cabeça de Adida. Disfarçava e olhava o seu rosto. Era tão pequena. Ela olhava o seu novo brinquedo nos braços e não se mostrava mais tão triste. Levantava o rosto e tudo parecia nublado. Mas aquele pedaço de gente que carregava junto ao seu seio parecia lhe dizer que a vida é bonita apesar das tempestades...
“Vamos, Adidinha! O nosso ponto chegou” levantou dizendo uma menina que sentava num banco da frente do ônibus. Sem dizer palavra, ajeitou os quilinhos poucos que levava no colo e levantou. E sumiu. E nunca mais a vi. Alguma coisa em mim mudou aquele dia. Certamente mudou...