terça-feira, 9 de abril de 2013

maravilha



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Caminhei pela Macapá à noite e um pensamento despontou em minha mente: Sempre gostei de árvores. Adoro as da Macapá! Trazem boas lembranças dos meus tempos de estripulias pueris! Árvores foram muito significativas em minha vida. De várias espécies, das mais robustas até as frágeis.
Na época em que o meu dia tinha mais de 24 horas e minhas preocupações diziam respeito a que brincadeira escolher para passar o tempo, havia um quintal em minha casa. As crianças tem uma visão diferenciada do mundo. Coisas pequenas parecem grandiosas e coisas simples parecem mágicas! O meu quintal parecia o maior quintal do mundo. E minha mãe, que herdou o gosto pelas plantas de meu vô Flor, dava conta de enchê-lo de folhagem de tudo quanto era tipo. Eu lembro com muito carinho do pé de maracujá. Eu adorava aquela planta maravilhosa que enramava o quintal quase que por completo e fazia sombra para que eu pudesse “cozinhar” minhas iguarias de barro na terra batida e fresca. Meus irmãos faziam guerra de maracujá e eu, “hominho” que sempre fui, entrava na brincadeira deles e saia toda roxa! Minha mãe ficava louca quando chegava do trabalho e me achava naquele estado.
Sinto ainda certo pesar ao lembrar o maracujazeiro, porque lembro também que ele morreu por minha causa (e acho que até hoje Dona Creuza não sabe disso, ou não sabia...) Eu acreditava que todas as plantas eram capazes de suportar o meu peso e resolvi escalar o pé de maracujá também... trágico.
Tinha o coqueiro que era a minha paixão e que foi plantado por vovô quando minha mãe comprou a casa. Meus irmãos faziam cabanas no fundo do quintal com as palhas do coqueiro. Para eles elas serviam de forte (ou sei lá o que) quando brincavam de guerra. Mas eu não dava mole... Invadia todas elas! Só não usucapia por conta das formigas que me atacavam. Tanto lugar no quintal e eles insistiam em montar as benditas perto da bananeira que era infestada de formigas. (talvez fosse uma estratégia...).
A coisa que eu mais gostava de fazer era subir no telhado de casa pra arrancar coco. E muitas vezes eu ficava por lá até anoitecer. Olhar o horizonte me inspirava e quando as estrelas apareciam eu ficava contando baixinho pra ninguém descobrir. Lendas urbanas rezavam que contar estrelas fazia aparecer verrugas nos dedos!
Acerola, goiaba, o pé de abacate emprestado da casa de tia Rita, mangueira, erva cidreira e todas as outras ervas que eu não sei o nome. Tinha de quase tudo, mas a melhor árvore de todas não estava no quintal de casa. Ela ficava (e ainda está lá) na frente da casa dos meus avós. Era uma linda acácia amarela. Quando ela se cobria de ouro era a maior felicidade da vida do meu vô. - “Venha cá, minha beijoqueira, ver como a minha Maravilha está linda! Foi assim que ele a denominou: “minha maravilha”. Até pouco tempo atrás eu não sabia que se tratava de uma acácia, mas isso importa pouco. Pra mim era Maravilha. E só. Não havia outra nomenclatura capaz de decifrar o que ela causava em todos nós.