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A beleza da fotografia, muitas
vezes, não está ligada a imagem em si, mas ao sentimento que ela armazena e traz à tona todas as vezes que o fotógrafo ou o fotografado a observa.
Assim acontece com a fotografia
que olho nesse instante. O inicio do entardecer do canto de uma espécie de
caverna.
Minha mãe não entendeu quando viu
a foto revelada – pra que você revelou essa foto, Fernanda? Nem dá pra ver
nada... você tá de costas. – E entendeu ainda menos quando eu coloquei a tal
fotografia em meu mural – tanta foto mais bonita e essa menina tonta bota
justamente essa que não dá pra ver nada – Mas o que minha mãe não sabe é que
essa foto guarda uma poesia secreta, um sentimento único que foi apreendido pelo fotógrafo nas cores do início do crepúsculo.
Um conforto toma o meu peito todas
as vezes que meus olhos captam a referida imagem. Deve ser um portal do tempo,
um túnel luminoso e fantástico que existe em alguns retratos, que guardam o
momento fotografado de maneira cristalina nos pixels.
O momento da foto não precisa ser
de felicidade e, por essa razão, não consigo desvendar o mistério dessas fotografias.
Nesta em especial eu recordo de um cansaço, uma pausa contemplativa que
revigorou meu espirito para retomar a caminhada que fazia.
Há uma fotografia mais antiga que
me faz ter certeza que o sentimento não precisa ser felicidade para a
magia-secreta-das-fotografias acontecer: eu criança, debruçada na cama
escrevendo poesia (sim, poesia). Minha cara na foto é de assustada e lembro ter
brigado com o fotógrafo por ter interrompido meu momento de devaneio.
Não consigo achar uma explicação
para o mistério existente nessas duas fotografias, mas sei que adoro as
sensações que elas me trazem. Fora isso, gosto de olhar fotos em geral. Até as
feias e mal tiradas guardam uma pontinha de sentimento... quem nunca riu de
fotografias antigas onde o fotógrafo mira mais a lente no chão que nas pessoas?