terça-feira, 27 de agosto de 2013

compreender


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Tentava com todas as forças compreender a vida, mas os quilos e a idade eram poucos para tal façanha. Acomodava-se por cima do muro e punha-se a sonhar com os morros distantes. Como a fascinavam aqueles morros... Seria difícil chegar até eles? Onde será aquele lugar onde moravam os morros? Essas eram perguntas frequentes em seus dias ensolarados.  A chuva também tinha sua beleza, apesar de esconder o horizonte irregular que a encantava. Na chuva a rua parecia um rio e ela, que nunca vira um, propriamente dito, ficava da porta da frente observando. Raios e relâmpagos explodiam no céu azul-marinho e a impressionavam. – “Fecha essa porta, menina!” – ela não ouvia. O aguaceiro deixava a cidade no escuro e o silêncio era mais vivo nestas épocas. Vela, chuva, olhos abertos. Observava as sombras que a sua mão fazia com a luz da vela. – “Vai ter pesadelos desse jeito...” – tão bonitas eram aquelas sombras! E o cheiro da chuva inundava o seu corpo e ela sentia vontade de ficar a noite inteira acordada embalada pelo som dos pingos que caiam e tilintavam nos baldes, folhas, e paralelepípedos. 

3 comentários:

  1. .....lindo texto...ainda respingam as gotas da chuva em meus pensamentos......sem raios ou trovões............apenas a chuva....
    .....só faltou o tomar banho de chuva.......ou de "bica"......

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  2. Que texto doce, saudoso... Senti o cheiro da chuva. Beijos.

    Fernando Franco.

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