domingo, 25 de outubro de 2015

o morro


*
Estava seco. As árvores, o chão, a minha boca. Estava seco de não saber quando novamente veria água e meu joelho doía. Um gatilho disparou essas lembranças em mim de modo que minha garganta arranhou como se eu ainda estivesse em cima daquele morro. Andamos um dia inteiro, havia anoitecido e não sabíamos que caminho tomar. Faltava trilha. Eu sentia medo e brigava com meus pensamentos – Fernanda, sua burra, o que você veio fazer aqui? – ansiava por água e luz. O medo me cegava. Foram só alguns minutos até a descida ser encontrada.  Chegamos ao leito do rio e encontramos amigos desconhecidos que vieram ao nosso encontro. Ofereceram-nos água, um remédio para o meu joelho e companhia. Foram as melhores.

Hoje sobre a luz sombreada do abajur enxergo a preciosidade daquele dia. Lembro como a água foi deliciosa e a comida um banquete e percebo que na vida temos que aprender a simplificar. Desafios sempre chegam para todos, em medidas diferentes, mas chegam. Eles chegam para nos engrandecer. A angústia do morro me fez outra pessoa e fui também outra quando chorei por um tropeço... Assim é a vida, cheia de transformações diárias. Repito: os desafios chegam para nos engrandecer. Somente nós podemos decidir se aceitamos os desafios ou se deixamos que o medo de vivê-los nos encolha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário