sábado, 16 de julho de 2011

SeuFlô.


“De facão na cintura,
E 'capanga' na mão
Homem de muita fartura
E tanto amor no coração
Fez valer sua cultura
Desbravando esse sertão...” 
(Graça Carneiro)
*
                                                               

Tomei vinho, comi chocolate e fui à Saraiva aprender um pouquinho sobre a vida com Antônio e o seu Xaxado.

Ouvir suas histórias fez-me lembrar meu avô. Velho feliz. Piadista da vida, apaixonado por cordel. Cresci ouvindo suas histórias de homens valentes, desbravadores do sertão e de mulheres apaixonadas que sacudiam suas saias floridas nos bailes por esse nordeste nosso. É tão bom tirar do baú estas lembranças sutis. Agora cá estou eu, sentada nesta cadeira, com meus dedos nervosos tentando externar esse sentimento que me domina e me deixa com cara de boba perdida no tempo.

Posso sentir o cheiro do quintal de meu vô, o cheiro da horta, da madeira molhada... Posso sentir em minhas mãos a textura das colheres de pau que ele, artesão da vida, fazia com tanto esmero. Posso ouvir até a sua velha piada do ladrão de maçãs...

Gosto dessa nostalgia... Desse sentimento velho e empoeirado que resgato vez por outra em situações comuns. Faz-me sentir leve, feliz, pequena e grandiosa.

Vou olhar a lua, remexer o baú a fundo e brincar com aquelas lembranças mais solitárias... de quando eu subia no telhado de casa, olhava o céu e contava estrelas, imaginando estar aqui um dia, sentada nesta cadeira, mais velha e mais cansada, caminhando pela estrada que escolhi, construindo o futuro que já existia em meus sonhos de menina. 



3 comentários:

  1. Perfeito. Eu adoro ler sobre as coisas que o coração conta quando está com saudades.

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  2. Que bonito.. Suas palavras soltas são sempre tangidas com doçura e simplicidade!

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  3. Antonio Cedraz, Xaxado e Seu Flô ... criaturas imortais que marcarão para sempre nossas vidas com um largo sorriso no rosto ao lembrar das infinitas histórias bem contadas. Muito bem Nandica, eles ficariam orgulhosos de ler esse texto.Parabéns!

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