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No silêncio da casa os segundos
ecoam no relógio e minha mente que vagueia no tempo se afoga em um pensamento
singelo: a consciência faz o sujeito.
Volto aos meus dez anos em
algumas batidas do senhor das horas. Lá estava eu no quarto dos fundos da casa
de minha avó revirando o seu baú às escondidas, pois ela nem poderia sonhar que
eu desvendava seus segredos armazenados naquele misterioso caixote de madeira.
É difícil falar da minha avó... Ela
era uma pessoa difícil – não existe melhor palavra para descrevê-la – mas, ao
mesmo tempo, uma avó amorosa – implicava comigo, mas me ligava pra dizer que
tinha cozinhado algo que eu gostava, reclamava dos meus 200 beijos pirracentos,
mas sentia falta deles quando eu não aparecia –. Ela era uma pessoa enérgica! Fazia
caminhadas, ia à feira livre e negociava com os feirantes, fazia doces
maravilhosos e uma carne assada que me água a boca até hoje só de lembrar! Fazia
fuxico, coberta e tapete de retalho e fazia crochê também (até tentou me
ensinar algumas vezes). Ela não gostava que ninguém fizesse nada pra ela, ela
que tinha que limpar a casa, cozinhar, cuidar das plantas, tudo. Ninguém fazia
certo. Mas um dia o relógio parou de ecoar na cozinha e ela começou a esquecer.
Esqueceu onde tinha colocado o vestido, esqueceu o caminho de casa, esqueceu
como costurava o retalho, esqueceu a hora da missa, esqueceu a gente e ela
própria.
Não pude evitar esses pensamentos hoje ajudando minha mãe a cuidar dela, não pude evitar de encher os olhos com essas lembranças. Na verdade, não quero evitar. Quero lembrar a minha avó enérgica e briguenta pra sempre.
Não pude evitar esses pensamentos hoje ajudando minha mãe a cuidar dela, não pude evitar de encher os olhos com essas lembranças. Na verdade, não quero evitar. Quero lembrar a minha avó enérgica e briguenta pra sempre.
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